
Cuidados para evitar infecção urinária na temporada de praia e piscina
- On 18 de janeiro de 2018
O verão chegou e trouxe com ele muitas doenças associadas a esta estação do ano. Na urologia, sempre vêm à mente as doenças infecciosas da área genital como micoses e balanopostites, os cálculos urinários, as doenças sexualmente transmissíveis (pela temporada do Carnaval) e também a infecção urinária.
O que é a infecção urinária?
A infecção urinária é, por definição, uma reação inflamatória que ocorre no trato urinário decorrente de uma colonização por micro-organismos, em geral a bactéria E. coli.
As mulheres, ao longo da vida, estão normalmente sob maior risco por vários fatores, sendo o principal deles o fato de ter uma uretra mais curta que o homem. Essa infecção normalmente ascende da região próxima da uretra (períneo, ânus) e atinge inicialmente a bexiga podendo chegar aos rins, causando dor lombar e febre e, eventualmente, tornando-se até uma infecção grave com risco de óbito.
Aproximadamente 50% das mulheres poderão ter pelo menos um episódio de infecção do trato urinário (ITU) ao longo de suas vidas e cerca de 1/3 dos casos devem ocorrer até os 24 anos. Essa situação clínica é responsável por cerca de 25% das consultas urológicas no mundo.
Mas será que podemos evitá-la no verão ou ao menos reduzir o risco?
Antes de responder a essa pergunta, vamos ver os principais fatores de risco associados a infecção urinária:
• atividade sexual;
• uso de espermicida;
• parceiro sexual novo;
• mãe com história de ITU;
• histórico de ITU na infância.
A famosa cistite, que causa dor na bexiga, ardência ao urinar e aumento da frequência urinária ocorre principalmente nessas situações. Porém existem outros fatores para a cistite recorrente, como:
• gravidez;
• uso inadequado de antibióticos;
• mulheres na pós-menopausa, por baixa de estrogênio local;
• cálculos urinários;
• doenças na bexiga etc.
Diagnóstico
É importante lembrar que toda mulher com suspeita de infecção urinária deve afastar causas ginecológicas como vaginites que podem cursar com corrimento ou outros sintomas ginecológicos.
Uma história médica detalhada associada ou não a um simples exame de urina é suficiente para o diagnóstico correto e início do tratamento.
Existem algumas medidas comportamentais que, embora ainda careçam de forte evidência científica, são parte da recomendação médica que fornecemos para as mulheres que sofrem com muita recorrência sem nenhum distúrbio funcional ou anatômico aparente.
Mas o que isso tem a ver com o verão?
No verão temos uma tendência a desidratar mais facilmente por causa do calor, e isso reduz o fluxo urinário, deixando a urina parada por muito tempo na bexiga. E como sabemos, urina parada aumenta o risco de infecção.
Nesta situação o risco aumenta muito, pois a principal defesa do organismo é o fluxo urinário adequado. Desta forma, recomendamos uma ingestão generosa de água para que isso promova um bom fluxo urinário (em geral de 2 a 2,5L de água por dia).
É importante lembrar também que muitas vezes esse problema é confundido com outras situações, inclusive de ordem ginecológica, como vaginites, micoses ou até mesmo uma doença inflamatória pélvica. O uso de biquínis e sungas, em razão da umidade, aumenta muito o risco de micoses, que muitas vezes são confundidas com infecção urinária.
Após a relação sexual, é prudente as mulheres realizarem uma micção a seguir do ato, e evitarem o uso de duchas vaginais. Não há muita evidência científica de que secar-se de trás para frente seria pior, porém recomenda-se evitar esse hábito.
Nos homens, uma situação clínica também muito frequente no verão são as balanopostites, que nada mais são do que infecções fúngicas na região da glande e do prepúcio. Essas inflamações podem causar muita irritação na glande, dor ao urinar e também na hora da relação sexual. Recomendamos sempre ao sair da praia ou piscina retirar o calção de banho, tomar um banho e secar bastante a área genital, para evitar a retenção de calor e umidade. O mesmo deve ser feito pelas mulheres.
Tratamentos
Não é raro homens e mulheres se automedicarem, hábito que pode favorecer a resistência bacteriana e dificultar o tratamento. Em algumas situações a bactéria é sensível somente a drogas injetáveis, e temos que internar a paciente para o tratamento adequado.
Em situações específicas, podemos lançar mão de tratamentos alternativos que tenham a intenção de evitar futuras infecções. Existem no mercado hoje algumas vacinas orais que podem reduzir esse risco.
Utilizamos também o famoso suco de Cranberry, uma fruta que há muito é estudada pelo efeito de reduzir essas infecções. Esse suco normalmente é comercializado sob a forma de pílulas ou sachês que o paciente toma diariamente enquanto estiver tendo crises frequentes.
Outra possibilidade é o uso de antibioticoterapia profilática por longo tempo.
Também existe o tratamento imediato após o ato sexual, já que notadamente algumas mulheres vão ter a ITU somente após a relação. Isso é o que chamamos de self-treatment, onde a mulher toma uma dose simples do antibiótico imediatamente após o ato sexual.
O importante nessa história toda é termos em mente que normalmente as infecções urinárias são de fácil diagnóstico e tratamento, porém se não tratadas adequadamente podem se transformar em infecções recorrentes, resistentes e em casos mais severos até mesmo se tornar um infecção que se estende aos rins e posteriormente ao sangue, causando sepse urinária, que pode levar ao óbito.
Urologista não é só para homens
Somos nós, urologistas, que lidamos diariamente com esse problema, porém casos não complicados podem ser resolvidos por qualquer médico em um primeiro atendimento. Em casos refratários, recorrentes ou mais severos, não deixe de procurar ajuda médica com um urologista. E o mais importante de tudo, evite a automedicação, não deixe de ir ao banheiro urinar frequentemente e, principalmente, beba bastante água no calor desse verão!
Dr. Paulo Salustiano
Urologista
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