O Câncer de Próstata e a Saúde do Homem

câncer de próstata

Imagine que você nasceu no Brasil no ano de 1900. O Brasil já era uma república nesta época e o presidente era Campos Sales, sucessor do primeiro presidente eleito por voto, Prudente de Moraes. No Brasil, a população era de aproximadamente 17 milhões de pessoas e a expectativa de vida girava em torno de 33 anos.

117 anos se passaram e certamente muitas coisas mudaram, tanto na república quanto na saúde das pessoas, em especial na saúde do homem. Sabemos hoje que a expectativa de vida média no Brasil é de 78 anos para mulheres e de 72 anos para homens. A diferença na mortalidade entre homens e mulheres vem acompanhando esse histórico por muito tempo, e é interessante notar que na natureza é comum que esse fato se repita.

Certamente, não há uma explicação suficiente e inequívoca para isso, porém fala-se muito que o homem sempre se coloca mais em situações de risco que as mulheres, e isso inclui, por exemplo, o tabagismo, o alcoolismo, além de riscos de morte como acidentes de trânsito, homicídios, traumatismos etc. Teorias sobre o fato das mulheres terem 2 cromossomos X e isso gerar algum efeito protetor também são estudadas.

Pesquisadores e cientistas não conseguem estabelecer limites sobre até que idade nós humanos podemos chegar. Por meio de modelos matemáticos, muitos estudiosos dizem que a pessoa que viverá 150 anos já nasceu e aquela que viverá 1000 anos nascerá em 50 anos, diriam outros ainda mais otimistas. Onde vamos parar? Claro que a ideia de viver mais é um sonho da humanidade, principalmente se associado a uma boa qualidade de vida.

Câncer de Próstata

Hoje, temos o câncer como um dos maiores problemas de saúde no mundo, sendo a segunda maior causa de morte, atrás apenas das doenças cardiovasculares, principalmente na população acima de 50 anos.

O câncer de próstata, especialmente, atinge cerca de 61.200 brasileiros por ano, segundo estimativa do Instituto Nacional do Câncer para o ano de 2016, e representa o segundo tumor mais frequente no homem, perdendo apenas para o câncer de pele não-melanoma. Cabe ressaltar que o câncer de pele não-melanoma, embora muito mais freqüente, tem uma implicação na saúde pública muito inferior, pois normalmente tem um ritmo de crescimento muito lento e taxa de mortalidade extremamente baixa.

Fatores de Risco

Cerca de 1 em cada quatro homens com câncer de próstata vão morrer dele e sua incidência é maior em indivíduos com história familiar positiva em parentes de primeiro grau (pai ou irmãos) ou indivíduos de pele negra.

Sem dúvidas, o principal fator de risco é a idade, pois a sua ocorrência antes dos 45 anos é muito improvável, podendo ser prevalente em até 60% dos homens após os 80 anos.

Sendo assim, com o envelhecimento da população e o gradativo aumento da expectativa de vida, o tema vem ganhando cada vez mais espaço na mídia e atenção das pessoas.

Fatores que podem influenciar

Dentre os principais fatores de risco relacionados, como idade, história familiar e cor da pele, percebe-se que todos são imutáveis. Porém, alguns hábitos de vida são muito estudados e podem sim ter uma implicação no desenvolvimento e no agravamento da doença, podendo levar o paciente a óbito.

Estudos epidemiológicos encontraram uma maior incidência do câncer de próstata nos Estados Unidos, Europa Ocidental e Norte da Europa, bem como Austrália e Nova Zelândia, com menor incidência na Ásia Central e Japão.

Alguns estudos demonstraram que imigrantes japoneses, após se mudarem para os EUA, igualaram seu risco, o que pode nos levar a pensar que hábitos na dieta ocidental podem ter alguma implicação na gênese da doença.

No Brasil, a incidência é maior no Sul e Sudeste, e isso pode também estar relacionado ao maior acesso à saúde e meios para se fazer o diagnóstico, maior capacidade de notificação e também pela maior expectativa de vida nessas áreas, em relação as outras regiões do Brasil.

Alimentação

Uma dieta rica em carne vermelha, gordura de origem animal e alimentos industrializados parece estar relacionado, justamente porque esses alimentos aumentam o risco de obesidade. Hipertensão arterial sistêmica e aumento da circunferência abdominal maior que 102 com parecem também ter alguma relação.

Alguns estudos sugerem que o licopeno presente no tomate e a castanha-do-pará podem ter algum efeito protetor.

Exercícios Físicos

Sobre a prática de atividade física, existe também um certo consenso de que a prática diária de pelo menos 30 minutos de algum tipo de atividade física que eleve a frequência cardíaca pode ter algum efeito, evitando o desenvolvimento da doença.

O fato é que não existe nada específico em termos de dieta e hábitos de vida que possam seguramente prevenir ou garantir o não surgimento desse câncer, porém, hábitos alimentares saudáveis e a prática de atividade física podem ser importantes aliados em reduzir o risco desse câncer, além de certamente evitar outras doenças.

Como a prevenção contra o câncer de próstata não é 100% eficaz, resta a nós a tentativa de um diagnóstico precoce. Com a medicina que temos atualmente, sabemos que, em fase inicial, a chance de cura pode ser de até 90%.

Ainda no Brasil, temos uma taxa de 20% de diagnóstico tardio, em que não há mais chance de cura e os tratamentos, embora ainda muito eficientes, promovem apenas o controle da doença e provavelmente trarão mais efeitos colaterais implicados.

Para se fazer o diagnóstico precoce, nós urologistas, utilizamos duas ferramentas: o toque retal, tão temido pelos homens, e a dosagem do PSA no sangue. Um toque retal alterado com nódulos ou endurecimento da próstata, associado ou não a uma elevação do PSA no sangue, pode indicar um risco maior do câncer e, com isso, realizamos a biópsia prostática.

De fato, para confirmarmos ou afastarmos completamente o diagnóstico, somente com o laudo histopatológico que é dado pelo patologista após análise do material.

Tratamento

Diante do diagnóstico de câncer, os tratamentos vão depender de uma série de fatores, como: tipo de câncer, estadiamento tumoral, bem como idade e condição clínica do paciente, entre outros.

Sabemos que, de uma forma geral, os tumores localizados e localmente avançados, ou seja, que estão nos órgãos próximos da próstata, podem ser tratados com cirurgia ou radioterapia. Em casos muito selecionados, é possível também fazer um acompanhamento da doença para um possível tratamento futuro, é o que chamamos de vigilância ativa.

Em casos de doença metastática, a cirurgia para a remoção da próstata perde seu espaço e ganham força os tratamentos para redução do nível de testosterona no sangue, que grosso modo, seria o “alimento” do tumor. Nesta fase, complicações decorrentes da baixa hormonal são praticamente inequívocas e efeitos colaterais como perda muscular, fogachos, perda do apetite sexual e outros, podem se tornar mais evidentes.

De qualquer maneira, é importante dizer que mesmo nesta fase, a depender de alguns critérios, a sobrevida e o controle da doença costumam ser muito efetivos na maioria dos casos.

Fato é que, por ser uma doença muito comum, com o envelhecimento da população no mundo todo, é certo que isso desperte interesse da indústria farmacêutica, que criam produtos que possam atuar na doença, como o avanço da cirurgia robótica.

Muito do que se faz hoje para o câncer de próstata nem existia há 5 anos atrás e, certamente, num futuro não muito distante, estaremos com novas modalidades de diagnóstico e tratamento.

Daqui para frente

O mais importante nessa história toda é termos em mente que precisamos falar mais sobre o assunto. O câncer está aí e a nossa principal arma é a informação. Se antes isso não era um problema porque vivíamos menos, hoje ele é uma realidade.

Vale lembrar que, quando o homem vai ao urologista, ele não vai apenas para fazer o check up da próstata. Ele vai para avaliar sua saúde como um todo. Pressão alta, diabetes, tabagismo, alcoolismo, estresse, depressão, obesidade são problemas que fazem parte do paciente e é na consulta médica que temos a oportunidade de conversar sobre isso.

A opção de consultar o médico, assim como as escolhas que fazemos na vida, podem e são individualizadas. A medicina está aí para mostrar alguns caminhos já estudados, cabe a nós sabermos fazer as escolhas mais adequadas ao longo da nossa história.

Dr Paulo Salustiano
Urologista
Uro-oncologista
Titular da Sociedade Brasileira de Urologia (TiSBU-RJ)