
Infecção Urinária: Quando as mulheres procuram o Urologista
- On 31 de outubro de 2017
Existe um conceito muito errado no imaginário popular de que o urologista é um médico exclusivo dos homens, já que é uma especialidade muito associada ao pênis.
Urologista para mulheres!?
Por definição, a Urologia é a especialidade médica responsável pelo diagnóstico e tratamento das doenças do aparelho genital masculino e do sistema urinário de ambos os sexos. Sem dúvida, no universo possível de doenças que são objeto de estudo do urologista, a maioria delas representa doenças exclusivas do homem (como problemas na próstata ou nos testículos) ou com maior incidência nos homens. Porém, quando falamos de infecção urinária, as mulheres são campeãs, e é nesse momento que elas buscam nossa ajuda.
Infecção Urinária
A infecção urinária é uma reação inflamatória que ocorre no trato urinário decorrente de uma colonização de micro-organismos, geralmente a bactéria E. Coli. As mulheres, ao longo da vida, estão normalmente sob maior risco, por vários fatores, sendo o principal, o fato de ter uma uretra mais curta do que a do homem.
Essa infecção normalmente começa na região próxima da uretra (períneo, ânus) e atinge inicialmente a bexiga podendo chegar aos rins, causando dor lombar, febre e eventualmente se tornar até uma infecção grave com risco de óbito. Aproximadamente 50% das mulheres poderão ter 1 episódio de infecção do trato urinário (ITU) ao longo de suas vidas e cerca de 1/3 dos casos deverão ocorrer até os 24 anos. Essa é uma situação clínica responsável por cerca de 25% das consultas urológicas no mundo.
Mas, doutor, eu tenho risco de ter infecção? Depende, listo a seguir alguns fatores que aumentam a chance:
1) atividade sexual;
2) uso de espermicida;
3) parceiro sexual novo;
4) mãe com história de ITU;
5) histórico de ITU na infância.
Aquela famosa cistite que causa dor na bexiga, ardência ao urinar e aumento da frequência ocorrem principalmente nessas situações. Existem outros riscos para a cistite recorrente como:
1) gravidez;
2) uso inadequado de antibióticos;
3) mulheres na pós-menopausa, por baixa de estrogênio local;
4) cálculos urinários;
5) doenças na bexiga etc.
É importante lembrar que toda mulher com suspeita de infecção urinária deve afastar causas ginecológicas, como vaginites, que podem cursar com corrimento ou outros sintomas similares.
Uma história médica detalhada associada ou não a um simples exame de urina é suficiente para o diagnóstico correto e início do tratamento.
Prevenção
Existem algumas medidas comportamentais que, embora ainda careçam de forte evidência científica, são parte da recomendação médica que fornecemos para as mulheres que sofrem com muita recorrência sem nenhum distúrbio funcional ou anatômico aparente.
O principal ponto é que urina parada aumenta o risco, sendo assim, recomendamos uma ingestão generosa de água, para que isso promova um bom fluxo urinário, em geral de 2 a 2,5L de água por dia.
Após a relação sexual, é indicado que as mulheres esvaziem a bexiga e evitem o uso de duchas vaginais. Não há muita evidência científica que nos mostre que secar-se de traz para frente seria pior, porém deve-se evitar esse hábito após a micção.
Não é raro as mulheres se automedicarem e esse hábito pode favorecer a resistência bacteriana e dificultar o tratamento. Em algumas situações, a bactéria é sensível somente a drogas injetáveis e temos que internar a paciente para o tratamento adequado.
Em situações específicas, podemos lançar mão de tratamentos alternativos que tenham a intenção de evitar futuras infecções. Existem disponíveis no mercado hoje algumas vacinas orais que podem reduzir sim esse risco.
Tratamentos
Utilizamos também o famoso suco de Cranberry, uma fruta que há muito tempo se estuda pelo efeito em reduzir essas infecções. Esse suco normalmente é comercializado sob a forma de pílulas ou saches em que a paciente toma enquanto estiver tendo crises frequentes. Outra possibilidade é o uso de antibioticoterapia profilática por longo tempo.
Também existe o tratamento imediato após o ato sexual, isso ocorre porque notadamente algumas mulheres vão ter a ITU somente após a relação. É o que chamamos de self-treatment, em que a mulher toma uma dose simples do antibiótico imediatamente após o ato sexual.
Resumindo
O importante nessa história toda é entender que normalmente as infecções urinárias são de fácil diagnóstico e tratamento. Porém, se não tratadas adequadamente, podem se transformar em infecções recorrentes, resistentes e, em casos mais severos, se tornar uma infecção que pode se estender aos rins, posteriormente ao sangue, causando sepse urinária, levando ao óbito.
Somos nós, urologistas, que lidamos diariamente com esse problema, porém em casos não complicados qualquer médico em um primeiro atendimento pode resolver. Em casos refratários, recorrentes ou mais severos, não deixe de procurar ajuda médica com um urologista. E o principal de tudo: Evite a automedicação e beba bastante água.
Dr. Paulo Salustiano
Urologista
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